Nenhuma surpresa
Quem
é espectador assíduo de esportes já viu e continuará vendo exemplos
fantásticos de superação, como esquecer da maratonista nas Olimpíadas de
1984, vencendo todos seus limites até alcançar a linha de chegada, ou
de R9 e sua luta para jogar a Copa de 2002; de triunfos no apagar das
luzes, como é bom lembrar das cestas de Jordan nos últimos segundos de
jogo, ou do gol de Raudinei em 1994; de viradas históricas, como o 4x3
do Vasco sobre o Palmeiras; e de triunfos considerados impossíveis, como
o 5X0 do Bahia em 1981. Entretanto, todos estes fatos foram
protagonizados por atletas com gana, vontade de vencer, capazes
tecnicamente e que puxavam a responsabilidade para si, ou por equipes
bem preparadas por técnicos capazes de enxergar e mudar o jogo. Ou seja,
exemplos de conquistas impossíveis existem, mas o Bahia atual não
preenche nenhum dos requisitos para tanto.
Ontem,
o jogo foi mais um exemplo de um time sem sangue nos olhos, até que
correu e demonstrou vontade, mas sem aquela confiança de uma equipe
vencedora. O jogo parecia uma pelada, muita correria, repleto de
contrataques, pois os dois times se lançavam de forma desordenada ao
ataque e deixavam as defesas expostas, assim os atacantes chegavam na
maior facilidade na cara do gol, mas com qualidade técnica baixíssima. A
cobrança dos dois toques por TR demonstra bem o que foi o Bahia no
jogo, afobação e improvisação mil, articulação e paciência zero. Como é
que se explica um time que luta para subir tomar dois gols do limitado e
rebaixado ABC em casa.
Para
finalizar sobre o jogo, Charles mais uma vez mexeu errado, primeiro
porque cedeu à pressão da torcida e colocou Railan, por pior que Cicinho
estivesse, não se pode gastar um substituição para por Railan em campo;
tirar Roger quando o time precisava pressionar e ir para o abafa foi
outro erro crasso, apesar de Romulesma ter entrado bem; e tirar Eduardo
Fantasminha, mesmo que cansado, na sua melhor partida pelo time, foi no
mínimo sacanagem, era mais sensato recuar TR e tirar o apagado e inútil
Yuri.
Finalizando,
já disse aqui neste blog que a profissão mais fácil do mundo é a de
comentarista, eu poderia neste momento criar um post sobre os 10 motivos
que levaram ao fracasso tricolor, ou entenda porque o Bahia corre o
risco de não subir, ou algo similar. Entretanto, prefiro republicar na
íntegra, sem nenhuma edição, o primeiro texto que fiz exclusivamente
para este blog, publicado em 25/08/2015.
O que esperar do Bahia na Série B
A confiança que frustra
A
Série B de 2015 é uma das mais fracas da história, apesar da presença
de Bahia e Botafogo, dois times com títulos nacionais e presença
marcante na Série A. Entre os demais, temos times acostumados a
participar sem nenhum destaque da Série A, o Vice e o Criciúma; alguns
que sobem, mas logo voltam à Série B, como Náutico e América/MG; e o
resto, me desculpem, é resto, apesar de reconhecer a tradição local de
times como Santa Cruz, Ceará, Payssandu e Sampaio Corrêa.
Com
esta configuração de times, e considerando a campanha no primeiro
semestre, o Botafogo foi vice carioca, e o Bahia campeão baiano e vice
do NE, era de se esperar que ambos sobrassem no primeiro turno da
competição. Mas, não foi isto que se viu, a competição se desenrolou de
forma equilibrada entre os 6 primeiros colocados, sem que nenhum time
conseguisse se desgarrar. Poderia aqui tentar explicar o porquê de tal
equilíbrio, mas o foco é o Bahia.
Dividindo
a análise da atuação tricolor em 4 partes, vamos começar pela diretoria
que vem fazendo sua parte, com os salários em dias, contratações
pontuais, profissionalização e valorização da base, e escolha acertada
do treinador. Pesam ainda favoravelmente, o bom papel exercido na
administração das finanças do clube, e o fortalecimento do programa
sócio torcedor. Por outro lado, olhando de fora, sinto a diretoria bem
confiante com a subida da equipe, o que a tem deixada acomodada com as
atuações pífias da equipe. A falta de garra e vontade em alguns jogos,
como exemplo contra o Atlético/GO, é gritante, não vi nenhuma
manifestação ou cobrança mais forte da diretoria sobre os jogadores, nem
sobre o técnico. É preciso acordar e cobrar mais comprometimento da
galera.
Agora
sobre a comissão técnica. Reputo que foi uma decisão acertada a vinda
de Sérgio Soares, treinador barato, com experiência de Série B, que
aproveita a base e com características ofensivas. Há muito tempo não vi o
Bahia tão soberano no Campeonato Baiano, goleando os rivais mais fracos
e sendo respeitado por todos, claramente devido à postura do treinador
que escalou o time em um claro 4-3-3, com meias mais preocupados em
atacar do que marcar. Veio a Série B, e alguns resultados inesperados,
sobretudo a goleada do Vice, começaram a mostrar as fragilidades de SS, a
insistência com alguns jogadores, Tiago Real é o maior exemplo; a
indefinição do esquema tático, agora o Bahia alterna entre o 4-3-3 e
4-3-1-2, mas sem mostrar firmeza e segurança em nenhum dos dois; e as
alterações erradas. Entretanto,
o que mais preocupa foi o comodismo levando a uma suposta perda de
comando sobre o elenco, não é aceitável o time jogar sem garra como já
dito aqui, o treinador tem seu papel de motivador e isto precisa
aparecer. Por sinal, cadê o resultado do trabalho do coacghing?
Encerrando a análise sobre a comissão técnica, temos de ficar atento ao
preparo físico da equipe, mesmo com o rodízio feito, o time vem
constantemente caindo de produção na segunda etapa, além de seguidas
contusões.
E
o elenco? Entendo que temos a mescla certa, com jogadores mais
experientes (Pittoni, Max e K9) e com boas promessas (Yuri, Vitor e Zé
Roberto, dentre outros), um time sem medalhões e com cara de Série B.
Sem dúvidas, por mais que se contrate ou aproveite a base o elenco ainda
tem carências nas laterais (volta Ávine), meia de ligação e homem de
área. No geral, é um elenco equilibrado e com opções de mesmo nível em
todas as posições, exceção ao centroavante que só temos o atrapalhado
tanque Alexandro.
Só
reforçando minha posição, em 98, nossa primeira experiência na Série B,
o elenco era de primeira, tínhamos vários jogadores que tiveram papel
de destaque no Brasileirão em times do eixo S-SE, só relembrando alguns:
Jean, Fábio Baiano, Jorge Luiz, Axel, Marquinhos, Wesley e Sílvio. O
time jogava pensando na Série A e achando que a volta era questão de
tempo, o resultado foi outro, ficamos em quarto em um grupo de cinco
times e quase caímos para a Série C.
Já
em 2010, com um elenco limitado, montado nas coxas, a vontade foi
outra, e o time armado pelo limitado Moraes, com a inspiração de Ávine,
com a boa fase de Adriano, e com Jael puxando a responsabilidade, subiu.
Era um time guerreiro, mas imprevisível, na mesma semana que brocou
Ponte e Sport longe de casa, se engasgou com o fraquíssimo Vila Nova em
casa; goleou a Lusa no Canindé, mas foi goleado pelo Icasa em Pituaço.
O elenco de 2015 tem as condições técnicas parecidas com o de 2010, e o espírito de 1998, combinação perigosa.
Para
encerrar a torcida, presente mas sem a invencível vibração, está sendo
levada pelo time, ao invés de carregá-lo como é nosso costume. Colocar
20 mil pessoas no estádio de nada adianta se não for para empurrar o
time e pressionar o adversário, se é para assistir o jogo, fique em
casa. Aqui também sinto um olhar de superioridade como se uma vaga da
Série A em 2016 já fosse nossa.
É
isto, o clube reúne todas as condições de subir, entretanto o excesso
de confiança da diretoria, comissão técnica, elenco e da torcida, pode
frustrar a todos no final de novembro. Este time já mostrou que tem
condições de jogar com mais garra e dedicação, a torcida também já
mostrou como se ganha um jogo, infelizmente este espírito só apareceu
quando enfrentamos um time de Série A, a velha leoa da Ilha.