Recentemente, foi lançado o filme/documentário Axé, ainda
não assisti, mas como vivi a década de 80 em Salvador, é obrigação ver. Desta
época lembro de várias canções e estou sempre cantarolando, uma delas é Banzo,
para quem não se lembra começa com a seguinte estrofe
De banzo eu não
sofro,
eu não sofro não.
África oyer no meu
coração
Pouco me importava o significado da palavra banzo, mas a
sonoridade desta música é contagiante, lembro de uma vez que a ouvi em um
barzinho ao lado da Casa de Jorge Amado no largo do Pelourinho, final da tarde,
tomando uma com os colegas, tempos inesquecíveis. Com o tempo, a curiosidade
aumentou e fui investigar o significado do termo banzo, era como se chamava o
sentimento de melancolia em relação à terra natal e de aversão à privação da
liberdade praticada contra a população negra no Brasil na época da Diáspora
africana, conforme definição atual do Wikipédia.
Quando leio as incontáveis mensagens dos torcedores do Bahia
nos grupos do Zap, me passa a impressão que a Nação vive constantemente de
Banzo, não tem dia para que eu não leia pelo menos meia centena de mensagens
relembrando o time de 88, Paulo Rodrigues, Nonato, Fernandão, Cláudio Adão,
Naldinho, Bobô, Ávine, Preto e outros. Relembrar e honrar o passado é uma coisa
que devemos fazer sempre, mas viver apegado a ele, como se o presente e o
futuro não existem é perigoso, é viver uma realidade que já passou e deixar
passar a oportunidade de se criar uma nova, talvez mais promissora e vencedora
que a anterior.
Como já disse aqui, acompanho o Bahia desde 1980 quando fui
morar em Salvador, e um dos motivos que nos levou a passar 20 anos na era das
trevas, como a própria torcida chama, foi a resistência da antiga direção
tricolor de mudar seus métodos, de enxergar que na década de 90 não se podia
mais administrar um clube como na de 60, de manter a mesma relação com os
jogadores que, por sua vez, já não viviam na era romântica do futebol e
começavam a entrar na era do profissionalismo.
Nem quero tocar aqui nos erros e acertos da atual diretoria,
o papo hoje é com a torcida, hoje a realidade é outra, antigamente, os times do
interior da Bahia revelavam jogadores capazes de disputar uma Série A, só para
ficar nos campeões nacionais de 88, Edinho Jacaré (Flu de Feira), Tarantini (Itabuna),
Sales (Jequié), Claudir (Serrano), Bobô
e Sandro (Catuense), hoje se um moleque faz três gols num intercolegial,
já tem um empresário levando para fazer teste nos grandes centros, não por
acaso, somente os times do interior de são Paulo ainda revelam jogador em
quantidade razoável nos outros estados é um ou outro, ou seja, está cada vez
mais difícil garimpar bons jogadores.
Outra coisa, vamos parar com esta de querer comparar
jogadores. Bom era Paulo Rodrigues, repete sistematicamente o torcedor, bom
não, ele era excelente, na minha modesta opinião, o maior jogador que vi no
Bahia, mas passou. Caralho porque temos de cobrar e comparar com este monstro
qualquer volante que venha vestir a 5 tricolor? Da mesma forma, comparar
qualquer 9 que venha a jogar no Bahia hoje ou amanhã com Cláudio Adão é
surreal, o negão era um gênio da grande área, hoje no futebol brasileiro
ninguém chega perto, então porque comparar Hernane com o cara, como já li hoje?
É querer sofrer, é querer viver uma realidade que já foi.
Outro mantra que ouço sempre, compre que o torcedor paga,
paga nada, os valores hoje são irreais. Aqui abro uma parênteses, como a
Direção adora alardear que o Bahia está em um bom momento financeiro, canso de
ler que o Bahia está rico e pode trazer qualquer jogador brasileiro ou
sul-americano, na boa, o Bahia divulgou um orçamento de R$ 8 milhões para
investir em atleta, não compra nem Juninho com esta grana. Infelizmente, ainda
teremos de viver um bom tempo dependendo de empréstimos de jogadores reservas
como Gustavo e Alione, ou apostando em promessas como Juninho e Rafael. Alguns
vingam como Fernandão e Juninho, outros fracassam como Thiago Ribeiro e Tinga,
mas é assim em todos os times do mundo não só aqui. Ibra e Henry fracassaram no
Barça de Messi, simples assim.
Enfim, sempre exalto a torcida tricolor aqui, mas se
insistimos em viver no passado, cobrando da diretoria e dos jogadores algo que
não serão capazes de nos entregar, corremos sérios riscos de nos desiludir e
levar o clube novamente a uma era das trevas. Vamos viver a nova realidade,
cobrar dentro dos limites alcançáveis e apoiar o time dentro, no que somos
imbatíveis, e fora, no que ainda estamos engatinhando, de campo. No mais,
relembrar o passado é sempre bom, por isto vou terminar este texto com a mesma
canção relembrando algo que fiz muito e ainda ei de fazer
Eu Também vou
Terça na levada do
Olodum
Eu vou Também terça
lá nas bandas do Pelo
Eu Vou também
Com meu amor.
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