Há muito tempo, dois paradoxos
atormentam a humanidade. O primeiro, “quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”,
enfim foi solucionado em 2018. Agora todo mundo sabe que foi o ovo, pois as
galinhas estão sempre em segundo. O outro paradoxo ainda está sem solução, “Tostines
vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?”.
Deixando a brincadeira de lado, o
papo aqui hoje é sobre os chamados mistos. Começando pelo paradoxo do Flamídia,
“o Flamídia tem mais torcida no NE porque passa mais jogos na tv, ou passa mais
jogos na tv porque tem mais torcida no NE?”. Difícil responder, já ouvi várias
explicações para isto, desde a tradição do Flamídia ter um craque nacional no
time começando por Leônidas, o Diamante Negro, depois Zizinho, até chegar em
Zico nos anos 70, época da popularização da tv no país; passando pelas excursões
pelo interior do NE na década de 50; ou pela força das rádios cariocas, em
especial Tupi, Nacional e Globo, que pegavam em todo o NE e priorizavam a
transmissão dos jogos do Urubu.
Com minha experiência de quem
morou no interior na década de 70, entendo que tv e rádio possuem influência
significativa no tamanho da torcida deles na nossa região. Em Conquista era
muito mais fácil saber o resultado de qualquer jogo do Campeonato Carioca do
que de um BaVice. Não por acaso, até hoje a maioria esmagadora da cidade torce
para os times do SE, torcedor do Bahia não é lá muito comum em minha cidade
natal.
Estou abordando este assunto,
porque os times do NE e parte da torcida resolveram partir para o confronto com
os mistos. O Bahia recentemente lançou a campanha “Nordestino retado torce para
time do seu estado”, e o Fortaleza fez um mosaico no último jogo, na mesma
linha. Acho que Bahia e Fortaleza estão certos, e espero sinceramente que os
demais times da região sigam o exemplo e obtenham sucesso. Isto é uma questão de mercado, mais
torcida maior exposição; mais exposição maior poder de negociação; mais poder de
negociação maior capacidade de arrecadar; maior arrecadação melhores times;
melhores times mais títulos; mais títulos mais torcida. E assim se reinicia o
círculo virtuoso.
Por outro lado, entendo que cada
cidadão deve torcer para quem quiser independentemente do seu CEP de
nascimento, a isto chamo liberdade de escolha. Nunca vou me esquecer do
gauchinho que torce pelo Bahia e a recepção de luxo que recebeu do nosso clube.
Por isto, me incomodo muito quando vejo manifestações agressivas e
preconceituosas contra os mistos. Principalmente quando parte da torcida do
Bahia, o time das campanhas afirmativas em prol do respeito à diversidade. Ou
seja, precisamos respeitar os negros, índios, mulheres e deficientes, mas não devemos
respeitar um baiano que torce para o São Paulo, Cruzeiro ou Inter? Que porra de
respeito à diversidade é este pela metade? Respeitar à diferença é levar na boa
que seu vizinho torça para o Vice, para o Vice e para o Flamídia, para o Bahia
e para o Galo, o que não dá é ser galinha e Bahia ao mesmo tempo. Antes que me
acusem de preconceito pelos grupos populacionais citados, peço que leiam o post
“Não pode ser só futebol” que fiz em apoio às campanhas afirmativas do Bahia, disponível na pagina Sobahea no Facebook.
E por que Sobahea? Como já disse
no post “Impossível esquecer” (http://www.sobahea.net/2017/07/impossivel-esquecer.html#more),
eu já fui misto, e não me envergonho disto. Torci e vibrei muito com o
Fluminense de Rivelino, depois de Edinho e Adão; e, finalmente, com o de
Branco, Romerito e Casal 20 (Assis e Washington). Quando morava em Conquista,
era Fluminense e Bahia, fui morar em SSA e passei a ser Bahia e Fluminense, uma simples questão matemática, torcia mais por quem via jogar mais.
Sabe como o Bahia conseguiu ser o único, me fazendo esquecer o Fluminense, quando
começou a montar times que disputavam de igual para igual com os maiores,
fazendo campanhas dignas no Brasileirão, culminando com o título em 88/89 e o
3º lugar em 90, enchendo sua torcida de orgulho e alegria. Foi assim que passei
a ser Sobahea. Isto é tão forte para mim, que três décadas depois, quando resolvi
fazer um blog e uma página no Facebook, este foi o nome escolhido.
Se o Bahia e os demais times da
região querem conquistar os torcedores locais, o caminho é este que o Bahia voltou a
trilhar, clube bem administrado com respeito aos profissionais, com isto atrairemos
treinadores e jogadores de qualidade, faremos times fortes, e voltaremos a
brigar de igual para igual com os maiores. É assim que se consegue conquistar
novos torcedores, não é com xingamentos e ameaças como uns e outros da torcida
teimam em fazer. Quero ver o Bahia perder hoje um torcedor para Galo, Vasco, Botafogo ou Fluminense, dentre outros do Sul e Sudeste.
Enfim, somos o MAIOR DO NORDESTE porque temos história e conquistas que nos proporcionaram isto. Quero mais é que o Bahia invada o Norte, o Centro-Oeste, o Sul e o Sudeste crescendo cada vez mais a apaixonada e vibrante nação tricolor.
Excelente texto, Miguel
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